23.3.10

AUTÓGRAFO

Desde que entrei pra esse sub-mundo sombrio da comunicação sempre trabalhei de forma discreta, sem aparecer muito, logo por que meu forte era imprensa escrita. As pessoas conheciam os textos de Gilliard Oliveira, mas não sabiam quem era, como era. Inexplicavelmente, sempre fiz uma força para que eu continuasse assim, discreto, sem muito alarde, o que não é comum no ramo. Sempre que havia um evento onde a imprensa toda estava reunida, lá se podia perceber nitidamente quem eram os jornalistas; eles (todos) logo formavam aquela típica rodinha para comentar sobre isso ou aquilo, sobre aquele texto mal feito do fulano, sobre aquela capa mal diagramada do jornal tal, enfim. Mas eu nunca estava lá; ao contrário, ficava separado, só observando de forma camuflada o vago teatro interpretado por aquelas pseudo-autoridades.
Se eu ia falar com alguém no intuito de entrevistá-lo era preciso eu fazer todo um ritual de apresentação: “olá meu amigo (a), eu sou Gilliard Oliveira repórter do jornal NONONO e etc e tal”. Era sempre assim.
Nesses quase três anos de madrugadas mal dormidas só trabalhei para dois veículos e mesmo assim só fui de um pro outro por que recebi uma proposta tentadora que acabou me levando a outro município, há 65 km do irmão, da prima, dos amigos e da Lisly. Era um desafio; tinha que fazer o jornal sozinho o que implicaria em produzir, escrever, editar e corrigir cerca de 15 textos (de preferência contando as mazelas do município ou atacando diretamente o prefeito e vereadores), além de direcionar artigos também tendenciosos. Ao final do mês meu irmão só tinha que vir fazer a editoração eletrônica do jornal. Só mais um detalhe, eu também era o jornaleiro que entregava um exemplar em cada comércio da cidade e nas vilas próximas.
Tudo estava indo nos conformes, mas em um belo dia meu patrão me chamou e disse que aquela edição que eu acabara de fechar era a última. E pra resumir a história eu acabei sendo remanejado pra TV, que pertence ao mesmo Grupo, e ai as coisas começaram a mudar.


Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário