23.4.10

MIGRAÇÕES


Que sensação é essa, quando você está se afastando das pessoas e elas retrocedem na planície até você ver espectros delas se dissolvendo? É o vasto mundo nos engolindo, e é o adeus. Mas nos jogamos em frente, rumo à próxima aventura louca sob o céu.
Louca, tórrida, célebre, a terra para onde nós, os amantes solitários, excêntricos e exilados vamos confraternizar como se fôssemos pássaros migratórios. A terra onde, de alguma forma, todos se parecem artistas de cinema decadentes, elegantes e arruinados.
Eu posso ouvir um farfalhar indescritível que não está apenas nos meus ouvidos, mas em todos os lugares, e não tem nada a ver com sonhos. Percebo ter morrido e renascido incontáveis vezes, mas simplesmente não me lembro justamente por que as transições da vida para morte e de volta a vida são ilusoriamente tão fáceis; uma ação mágica para o nada, como adormecer e despertar um milhão de vezes na profunda ignorância e em completa naturalidade.
A vida segue... as vezes para trás. Tudo tem se tornado enfadonho.
Ps.: faltou Késya, Mayra...

16.4.10

JOÃO III

Casa Grande

"A Casa Grande é branca e branda como a seda
Acolchoada, fina e nobre como a renda
Mas aqui fora reina a lei da reprimenda
Da palmatória, nossa praga, nossa prenda, ai, ai!
Doutores, caros, fortes, ricos e senhores
Que suspirais pela janela dos amores,
Rogai por nós, marcados por terríveis dores,
De vós vem nossas esperanças e temores...
Os nossos corpos sendo mortos pouco a pouco,
Os nossos sonhos já desfeitos, todos loucos...

Na Casa Grande há uma cruz numa parede...
No coração de um negro há uma Casa Nova,
Sem palmatória, sem corrente obrigatória,
Sem mais senhores, todos são, de todo, amigos
E nas paredes não há cristos esquecidos...
Nessa fazenda Deus é gente aproximada,
É dia inteiro, tarde, noite e madrugada,
Motivo, encontro, comunhão e caminhada,
Faz liberdade ser bem mais que uma palavra,

Ai, ai!

Os nossos corpos redimidos num momento
Bem mais veloz que a luz de todo pensamento...
A nossa Casa é muito mais que uma fazenda...

9.4.10

ÁGUA

Tem coisas que só acontece comigo mermo... Já se passaram pouco mais de uma semana desde que me mudei pro novo AP. Mas o que já aconteceu nesses poucos dias bem que poderia ser distribuído em um ano que seria menos doloroso. Passar raiva em suaves prestações é sempre mior.

Como se não bastassem os problemas da última postagem, tô sem água desde terça-feira. Isso não tem a menor graça, mas toda vez que paro pra pensar na situação eu morro de rir. Isso é hilário, não pra mim.
O fato é que, quando a água foi embora, eu e mais quatro vizinhos achamos que seria algo normal e que duraria, quem sabe, até o fim do dia. Mas eu muito queria que isso fosse verdade. Mas não foi. Nas vasculhadas, ouvindo um e outro que estava por ali há mais tempo, descobrimos que a conta da bendita água está atrasada quatro meses e que o valor do débito gira em torno de míseros R$ 5mil. Que coisa não? (tô rindo de novo). Procuramos o chefe, mas ele disse que a culpa é do posto de gasolina (o posto é dele e fica bem próximo da situação, mas está arrendado pra um inimigo político//fico me perguntando, como alguém faz negócios com um inimigo?) que consome da mesma água, mas que quem deveria pagar a água era o posto, já que a energia ele assumiu. O gerente do posto diz o contrário, enquanto o deserto vai ficando mais deserto pro lado dos patetas moradores. Enfim, amo muito tudo isso (rindo de novo).

Imagina como é ótimo ter um banheiro ali, bem pertinho de você, mas não poder usá-lo nem pra dá uma mijadinha. Ainda bem que tem chovido nas duas últimas noites, pois já tava partindo pro segundo galão de água mineral. Se bem que (pensei nisso ontem à noite, sozinho) se brincar, dependendo da intensidade da chuva, dá até pra banhar dentro do próprio quarto.

Ontem não perdi tempo (aliás, perdi e foi muito) e já arrumei um lugar perfeito pra mim, eu acho. Um quarto enorme com um banheiro grandão; a suíte dos meus sonhos. Vou ter que pagar R$ 200, mas não vou ter de me preocupar com energia e água, tá tudo incluso. Ótima localização, perto de onde vai ser as futuras instalações da TV, tudo muito bom... até eu me mudar pra lá é claro.



5.4.10

GOTEIRAS

Quarta-feira (31) eu me mudei pro novo apartamento que meu chefe me concedeu por uma bagatela de R$ 100,00. O bixim até que é aconchegante; é uma suíte simples, mas bem legal. Só tem um problema (eu achava que era só esse), a central de ar cria uma sensação de que tem umas 779 goteiras mesmo em dias quentes. Parece que houve um probleminha no escape de água que acaba caindo toda dentro do AP, então haja balde. Lá tem mais uns três APs e uma residência completa, todas com problemas de goteiras (goteiras mesmo), mas que o chefe já garantiu que resolverá o mais breve possível.
No inicio eu me gabava pelo fato de o meu ser o único que não tinha esses problemas nos dias chuvosos. Era o único, até que veio a madrugada de sábado pra domingo e com ela uma tremenda duma chuva louca. Era uma 3h30 quando ouvi dois pingos alternados caindo como se numa tábua. Levantei de imediato, liguei a lâmpada e qual não foi minha surpresa ao ver duas goteiras exatamente em cima do guarda-roupa. Resolvi o problema com duas vasilhas e logo me pus a deitar, mas quando já tava quase dormindo, ouvi mais uma goteira e lá me vou novamente. Na minha segunda tentativa de dormir eu fui interrompido novamente com outra. Depois de resolver o problema eu decidir sentar na cama e esperar se viriam outras. Pra minha infelicidade vieram mais duas; uma em cima do rack e outra ao pé da parede, a essa altura lá pras 4h30 da madruga. Ao todo foram seis goteiras, além das 779 diárias da central. Agora imagina se eu consegui dormir com esse coro sincronizado de gotas?!

Ps.: Lisly me visitou domingo, trocamos ovos da páscoa, passeamos, assistimos um filme (Um sonho de liberdade), Isaque se juntou a nós, jogamos dama, cortei o cabelo (depois de 4 meses), ele também, tomamos sorvete, os dois se foram e a rotina retornou na segunda.