27.5.10

PROCEDÊNCIA

O recado é o seguinte: tô sem clima, sem internet, sem paciencia, sem inspiração, apesar de muito assunto já pré-editado pra pôr na roda. Mas, paciência né?!

Já vislumbro mudanças drásticas na minha vida e quero contar cada detalhe de tudo, começando do começo. Aliás, o começo já foi começado, agora é só dá procedência (é com "c" ou "ss"?) na "VIDA".

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12.5.10

VIDA II

Quando completei 14 anos, meu pai me perguntou se eu queria “estudar fora”. Topei na hora. Imaginei uma vida de independência, sem dá satisfações a ninguém, sem as regras que muito me prendiam. E lá me foi, eu e o Preto rumo ao desconhecido, ao novo; um internato no meio da selva Amazônica. Um lugar onde todo tipo de gente fazia parte de um mesmo sistema rígido e ao mesmo tempo desafiador, para onde muitos pais enviavam seus filhos rebeldes na esperança de “tomarem jeito por lá”. O que não era nosso caso.

De cara eu levei uma surra de toalha de uns 7 caras; o motivo foi a divisão de classe típica do lugar. O sistema funcionava da seguinte forma:

Toda a estrutura era formada por três prédios principais. Um dormitório feminino, outro masculino e um refeitório, além do setor onde funcionavam as salas de aula e a administração de toda a escola. Pois bem, os quase 500 alunos eram divididos em cinco classes: Bolsista – pagavam uma taxa simbólica por ano, trabalhavam quatro horas diárias e oito nos domingos, feriados e nas férias e só tinha direito a 15 de férias no final do ano; Bolsista especial – a única diferença deste para o bolsista era que a taxa era paga por mês, e tinha o direito ás férias de fim-de-ano; Semi-bolsista – pagava mensalmente uns R$100 a mais que o Bolsista especial, cumpria a mesma carga horária de trabalho, mas tinha direto as férias de meio e fim-de-ano; semi-semi bolsista – pagava mensalmente uns R$100 a mais que o semi bolsista e tinha uma jornada de trabalho de três horas por dia, tinha os domingos e feriados livres e gozava de todas as férias. Por último tinha o Regular, que pagava uma taxa mensal de não sei quanto e não trabalhava nada.

Então. Eu fui como Semi-bolsista, aliás, fui o primeiro semi a chegar no colégio no ano de 2000. De cara eu peguei o serviço que diziam ser o melhor de todos; Monitor de limpeza. Eu era o responsável por toda a limpeza do prédio masculino. Lavava os banheiros (imagine a situação surreal do local onde um bando de machos vindo de vários lugares do pais, de diferentes culturas deixavam toda sujeira), lavava os corredores, limpava o gramado e colhia todo o lixo.

[Interessante, mas quando comecei a escrever este post a intenção não era contar da surra, mas depois eu continuo com o ex-assunto. Então vamos a surra.] Todo empolgado e inocente, eu fiquei encantado com a maneira como os bolsistas tratavam um a outro na hora de irem trabalhar; “vão trabalhar escravos”, gritavam entre eles. Já me sentindo todo enturmado, um dia resolvi entrar na brincadeira. Uns sete marmanjos iam em direção ao banheiro quando gritei “vão trabalhar escravos”. De repente todos pararam ao mesmo tempo, se viraram. Na hora eu percebi que tinha feito merda. Mas do jeito que eu tava (como um rodo na mão no meio do corredor) assim fiquei. Os caras vieram em minha direção e me deram um samba (surra de tapas na cabeça) seguido de muitas toalhadas. Não me lembro se chorei ou não, mas me lembro que o rodo não serviu pra nada, apenas para continuar levando e trazendo um pano de cara pro chão.

Foi então que me dei conta da divisão de classe que tinha que ser respeitada por quem quisesse “se dá bem” durante ao menos os primeiros dias de cada ano. Depois as coisas ficavam amistosas, com raras exceções.

Continua... ou não.

9.5.10

VIDA I

Foi numa pequena e monótona cidadezinha do interior do Maranhão à beira do rio Tocantins que passei grande parte de minha infância. O lugar não tinha muitas opções. Só pelo nome da cidade dá pra se ter uma idéia; São Pedro da Água Branca, e nem me pergunte o por que desse nomezão grandão e sem sentido. Mas para um garoto se sete anos qualquer espaço se torna um prato cheio.

Minha vida se dividia entre os amigos da igreja e os amigos da escola. Mas vou me reter nessa última. Da 2ª até a 7ª estudei na escola mais procurada do município, conhecida por CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade...acho que é isso.). A escola era mantida pela então mineradora CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), hoje somente Vale, e por isso os únicos com oportunidades de estudar nela, ou teriam que ser filhos de funcionários da Vale, ser um “filho de papaizinho”, ou passar numa espécie de vestibular para concorrer a uma das poucas bolsas que a escola disponibilizava para a comunidade. E foi nessa última que me encaixei (eu acho). Enfim.

Durante sete ano (na 8ª a escola já não era mais administrada pela Vale, mas a estrutura e os servidores eram os mesmos) eu, Roberto, Jean, Gilciney e Wallace formávamos uma panelinha dos pseudos-CDFs da sala. Éramos os, digamos, metidos a nerds da turma, com exceção de mim que vez ou outra manchava a “categoria” por sempre está metido em brigas, principalmente nas partidas de futsal na hora recreio. Quase todo dia era uma encrenca diferente e em quase todas elas lá estava o “irmão Nonato” assinando o termo de advertência. Pra se ter uma idéia, no meu 3º dia de aula na escola, eu novato, quebrei o nariz de um elemento só pelo fato de ele ter perguntado “quem é o orelhudo ai da frente?” em plena hora do hino nacional. Foi uma confusão geral. Fui suspenso 3 dias. O nome do cidadão era Wallace, isso mesmo, o cara que depois fez parte da mesma “turma” que eu e anos depois dividimos o mesmo quarto no internato e jogamos tênis de mesa em São Luis. Por mais que todo mundo tentasse me ferrar, inclusive alguns professores, por ser insuportável, eu sempre me safava graças ao respeito que meu pai adquiriu em tão pouco tempo na cidade.

Tinha um cara na minha sala chamado Rosiel, mas ninguém o chamava pelo nome – com exceção dos professores – todos só o conheciam por “amansa-jegua” ou simjplesmente "amansa". O apelido surgiu quando ele chegou na aula de Educação Física todo ralado e sangrando. Na verdade ele morava em uma fazenda e na estrada levou uma queda de bicicleta. Mas a versão que ficou foi a de que ele estava “amansando” uma jegua (na verdade acho q nem existe jegue do sexo feminino). Não, dessa vez não fui eu quem pôs o apelido, foi o próprio professor.

O indivíduo era bem maior que eu, aliás, em termos de tamanho eu só perdia pro nanico do Gilciney. Pois bem, o “amansa” (acho pouco provável que ele veja isso algum dia) era meu eterno alvo de encrencas, eu sempre procurava um meio de provocá-lo sabendo que se ele viesse pra cima era mais uma redenção a meu favor; ele sempre apanhava.

Foram detalhes indescritíveis, amizades sólidas, experiências reais e alguns deslizes que ao longo do tempo foram se juntando a tantos outros já cometidos e que formaram essa composição desequilibrada que me moldou e me concebeu.

6.5.10

TEMPO II

cem palavras: o tempo e o dever

Há algo mais necessário hoje do que o uso sábio do tempo? Para tudo temos a resposta pronta "Não tenho tempo". Nunca temos tempo para nada porque o tempo nos tem. A falta de tempo não janta com os amigos nem folheia livros grossos; a falta de tempo não brinca de carrinho no tapete, o que torna o pai mais íntimo do William Bonner que dos filhos.

Há mais necessidade de gente que, mais do que cumprir dignamente o dever, cumpra deveres dignos. É o que aprendo com Hillel:

Se eu não for por mim, quem o será? E quando sou por mim, o que sou? E se não for agora, quando será?

Não digais, quando eu tiver um tempo livre, vou estudar - talvez, jamais tereis um tempo livre.

Onde não houver homens, esforçai-vos para agir como um homem.
E para quem tem muita iniciativa no tempo, mas pouca "acabativa" no dever, servem as palavras do rabino Tarphon:

Não sois obrigado a concluir a obra, mas tampouco estais livre para desistir dela.

variado do notanapauta.blogspot.com