26.3.10

AUTÓGRAFO (Part II)

Depois que comecei a me ver pela TV e a me expor, duas conclusões eu tirei:
A primeira – tenho problemas de dicção. Além de querer atropelar as palavras, tenho um apego enorme e involuntário com o “ch”. Por exemplo, palavras como gente, vigia, editar e tinha soam como chentche, vichia, etchitar e tchinha, é claro que algumas não soam com o “ch” tão claro assim, mas é perceptivo como o mínimo de observação. Percebi isso na primeira vez em que me vi falando na TV. E ai eu senti uma enorme vontade de ter um sotaque tipicamente nordestino, que nesses casos usa a ponta da língua para soar o “d”, o “t” etc.
A segunda – não consigo mais ser tão anônimo como desejava. Em todo lugar que vou as pessoas me cumprimentam ou no mínimo ficam me encarando, o que muito me incomoda. Por mais que eu ande de cabeça baixa sem olhar pra ninguém, não tem jeito... na verdade é uma coisa lógica, não tinha como eu esperar outra reação do público, mas que é estranho é.
No início da noite de Sábado estava eu sentado com a doce companhia de Lisly, Jonas, Geyce e Léia quando um garoto entrou na roda, estendeu um caderno e uma caneta e timidamente pediu um autógrafo pra Léia (reporti cumpanheira), depois se virou pra mim e disse: "você também". Por mais que eu tenha achado o fato uma piada consegui ver sinceridade nos olhos do garoto. Foi ai que cai em si de que já não sou tão desconhecido assim. Logo eu que não sou muito chegado a um cumprimento. Quantas e quantas vezes perdi o contato com alguém pelo simples fato de não ter a iniciativa de ir cumprimentá-lo. Mas, enfim, a vida segue e lá vou eu ansioso em ver aonde isso vai me levar. (Fim)

23.3.10

AUTÓGRAFO

Desde que entrei pra esse sub-mundo sombrio da comunicação sempre trabalhei de forma discreta, sem aparecer muito, logo por que meu forte era imprensa escrita. As pessoas conheciam os textos de Gilliard Oliveira, mas não sabiam quem era, como era. Inexplicavelmente, sempre fiz uma força para que eu continuasse assim, discreto, sem muito alarde, o que não é comum no ramo. Sempre que havia um evento onde a imprensa toda estava reunida, lá se podia perceber nitidamente quem eram os jornalistas; eles (todos) logo formavam aquela típica rodinha para comentar sobre isso ou aquilo, sobre aquele texto mal feito do fulano, sobre aquela capa mal diagramada do jornal tal, enfim. Mas eu nunca estava lá; ao contrário, ficava separado, só observando de forma camuflada o vago teatro interpretado por aquelas pseudo-autoridades.
Se eu ia falar com alguém no intuito de entrevistá-lo era preciso eu fazer todo um ritual de apresentação: “olá meu amigo (a), eu sou Gilliard Oliveira repórter do jornal NONONO e etc e tal”. Era sempre assim.
Nesses quase três anos de madrugadas mal dormidas só trabalhei para dois veículos e mesmo assim só fui de um pro outro por que recebi uma proposta tentadora que acabou me levando a outro município, há 65 km do irmão, da prima, dos amigos e da Lisly. Era um desafio; tinha que fazer o jornal sozinho o que implicaria em produzir, escrever, editar e corrigir cerca de 15 textos (de preferência contando as mazelas do município ou atacando diretamente o prefeito e vereadores), além de direcionar artigos também tendenciosos. Ao final do mês meu irmão só tinha que vir fazer a editoração eletrônica do jornal. Só mais um detalhe, eu também era o jornaleiro que entregava um exemplar em cada comércio da cidade e nas vilas próximas.
Tudo estava indo nos conformes, mas em um belo dia meu patrão me chamou e disse que aquela edição que eu acabara de fechar era a última. E pra resumir a história eu acabei sendo remanejado pra TV, que pertence ao mesmo Grupo, e ai as coisas começaram a mudar.


Continua...

15.3.10

LISO

Ok! tenho meus motivos; além de uma tremenda falta de disponibilidade, os dias tem sido corriqueiros e até “animadores”, o que me levou a concluir que quanto mais triste a gente tá, mais inspirado. Eu acho que é isso. Tipo, quando tô meio pra baixo (leia-se: arrasado, frustrado, com a pesada impressão de ser um sem-rumo...) assunto é que não falta; ai me vem à memória coisas do passado e tento relacionar com minha medíocre vida do presente.
E falando em medíocre vida acabei de me lembrar de um assunto (acabei de lembrar mesmo, no sério) que me deixou deprê por uns dois dias; a liseira. Ta ok, vou explicar.

Eu moro sozinho, e trabalhava como editor de um jornal impresso. Mas o patrão decretou seu fim então fui remanejado pra TV, o que tá me proporcionando uma experiência e tanto (depois escrevo um post só sobre o assunto). Meu salário é razoável, levando em consideração que só tenho que me sustentar e guardar uma reserva pro tempo das vacas magras. Mas pela primeira vez na vida [essa vida de agora, não as outras (depois escrevo tbm só sobre o assunto)] eu fiquei liso, no brefo, na pindaíba. Tá que eu fiz umas dívidas, mas nada que viesse comprometer meu salário (jurava eu). Mas quando coloquei tudo no papel eu percebi que, se eu continuar nesse rumo, eu muito vou me afogar. Então ta, anota ai:
Aluguel: R$ 260,00
Lote: R$ 110,00
Sky: R$ 80,00
Academia: R$ 60,00
Comida I: R$ 100,00 (café da manhã e lanche)
Comida II: R$ 130,00 (almoço e janta)
Pra ver a Lisly: R$ 120,00
Poupança: R$ 100,00
E surgiram mais duas:
Parcela do óculos: R$ 116,00
Tratamento Odontólogo: R$ 160,00
**Dízimo não é despesa, então não entra.
Só isso foi pra lá de R$ mil, isso sem contar meu entretenimento e os gastos jogados pelo ralo (o resto não sei pra que rumo tomou).

Depois que fiz as continhas, decidi que tenho que abrir mão de algumas regalias, o que quase já não tenho.
Moral da estória, tomei as seguintes medias:
Consegui um apartamento com meu chefe por R$ 100,00, que eu mesmo já havia recusado por duas vezes em nome da privacidade, (um quarto climatizado com banheiro e muita goteira quando chove). Me mudo mês que vem. Só espero que não tenha tanto mofo como tem o meu atual.
Vou pagar só mais um mês de Sky e vou cancelara a assinatura.
Vou pôr em prática o meu regime alimentar (quem me conhece e não me viu há um tempo vai achar que tô de brincadeira, mas pasmem; minha barriga anda em acelerado ritmo de crescimento e já vejo uma horta de celulite rodeando um umbigo) e reduzir a feira.
Ver a Lisly, agora só de 15 em 15 dias, nos outras ela quem virá (a não ser se eu arrumar carona).

Acho que é isso, mas se alguém ai (vai ter alguém ai?) tiver mais sugestões eu vou logo dizendo: QUERO FICAR RICO!! Então manda com pressa que já vem tarde.
Por conta disso eu muito quero que esse mês passe voando e chegue logo o próximo pagamento pra eu dá uma respirada.

2.3.10

MEDO

Domingo à noite foi a primeira vez que tive a intenção de sair com Lisly desde o B.O. resultante de uma arma em punho, de uma moto levada em plena praça e aos olhos de dezenas de espectadores. Mas pasmem, não consegui. E olha que ainda não era sequer 20h.
Fiquei olhando a praça de cima, do apartamento onde meu irmão mora, mas não consegui “entrar” nela. Senti arrepios, enrolei o tempo, driblei a coragem, me acovardei. Foi uma sensação inédita, mas que nunca queria ter sentido. “Deixa em compartilhar contigo teus pensamentos, vai! Diz pra mim o que se passa em sua mente?!”, e ai eu compartilhei o nojo que começava a sentir por aquela cidade, por aquela praça, por aquele pedaço do estacionamento.

Fomos à igreja e de lá direto pra casa dela. Em certo momento a preocupante pergunta soou com brandura pela segunda vez: “O que foi meu bem?” então eu admiti de uma vez que, a minutos atrás, eu senti medo da noite parauapebense, desconfiei de todos os olhares desconhecidos, de todas a atitudes apressadas e repentinas de um estranho qualquer, todos passaram a ser suspeitos, e eu a vítima.

Talvez se as ruas estivessem vazias eu me sentiria mais seguro.

Isaque me levou pra casa em segurança sem ele mesmo saber disso, e em troca teve uma rápida mas proveitosa conversa com alguém que aparentemente estava feliz e até sarcástico.

Não sei se existe um nome pra isso, e eu sei que é cedo demais pra admitir isso, mas tenho medo disso ser contínuo e de não descobrir o que é isso de fato.